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A reversibilidade do existir

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      É uma ilusão o indivíduo achar que tomou uma decisão imutável, que está determinado a, que tem determinação para, assim como é real e verdadeira a sua apreensão das contradições que criaram desequilíbrios e incertezas e levaram à tomada de posição, ou seja, ao estabelecimento da chamada determinação. Posicionar-se como determinado a, reduz variáveis e gera limites, que além de reduzirem dimensões da existência, podem também explicar e possibilitar novas decisões. A própria mobilidade ou liberdade para decidir, gera restrições.   Todo compromisso implica em renúncia, e contínuas renúncias comprometem definitivamente. A reversibilidade infinita do existir é a única permanência. A imobilidade da variação é paradoxal. Esse universo quântico, esse ser o que o outro lhe permite ser, é estruturante, mas também desagregador quando essas permissões restringem participação e questionamento. Regras ditatoriais, gangs organizadas para roubar e matar exemplificam es...

Centenário de Mãe Stella de Oxóssi - Liderança religiosa inesquecível

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Mãe Stella de Oxóssi e Vera Felicidade no Ilê Axé Opô Afonjá em 2004    Todos que vivem e morrem deixam marcas. Essas marcas são abrigadas pelas memórias de seus familiares e mantidas pelos seus grupos por pouco ou muito tempo. A continuidade das presenças pessoais, após suas mortes, varia em função dos contextos que as abrigavam. Os que são líderes de comunidades propiciam essa continuidade principalmente ao efetuar mudanças e questionamentos. O conjunto de mudanças é propulsor e dinamizador. Mãe Stella de Oxóssi é um desses expoentes. Ainda adolescente ela foi iniciada em uma comunidade religiosa, que em sua época era considerada uma seita e não uma religião, uma seita menosprezada e mal vista, precisando ser coberta por mantos sincréticos, socialmente e religiosamente aceitáveis. Era o manto da legalidade que corrompia e disfarçava o autêntico, as origens africanas e tribais.   Mãe Stella foi eleita mãe de santo em 1976, amadureceu ideias e entrou...

Convergência

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    Quando tudo conflui para o mesmo ponto, para a mesma direção, parece que um imã polariza. É a convergência. Poucas vezes isso acontece no dia a dia, pois a convergência exige transposição de limites e de circunstâncias. Estar imantado, polarizado para um mesmo ponto, não é seguir um padrão, não é ser conduzido. A convergência requer transcender os situantes. Assemelha-se a uma forte corrente formada por várias correntezas que é puxada para um mesmo objetivo. Dias atrás, nas cerimônias do enterro do Papa Francisco percebemos essa convergência, essa transcendência de limites, situações e objetivos. Tudo convergia para o momento do sepultamento. As situações de convergência são configuradas por direções transcendentes que agrupam e organizam o convergente. É como se fosse criado o onde chegar, o que atingir independente de quem e como é atingido.   Convergir é ir além dos próprios constituintes situacionais, é o pulo do gato, é o pulo do abismo, às vezes o pulo ...

Andando sem chão

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  Um dos maiores deslocamentos psicológicos é desejar. Desejar é querer o que falta, é burlar, negar o existente. Criar novos universos e neles se alojar é uma atitude de fuga e não aceitação, que caracteriza o sentir-se em um lugar errado, com pessoas erradas, ou ainda, o não estar onde se quer e com quem se quer, por exemplo. Frequentemente, deseja-se bem-estar e felicidade. O desejo assume aspectos reveladores quando considerado sintoma de não aceitação. O outro mundo, o outro, a outra realidade é a busca de paz, segurança, tranquilidade. Inventar e buscar o inexistente é o grito desesperado. É a angustia organizada como ferramenta que abrirá portas. Contudo, a grande contradição do desejo é esperar satisfação e realização no que não existe, pois o desejante se nega como pessoa e realidade. É a boca aberta sem corpo, os pés andando sem chão, sem espaço.   O desejo, como sugere negação do que se vivencia, negação da realidade que se percebe, cria...